Complexo Cultural, Social e Esportivo da Liga Solidária
Coautoria: Sabrina Gofert
Consultoria Estrutural: Yabni Engenharia
Consultoria BIM: Natália Yoshimoto
Considerando o contexto de alta vulnerabilidade e dificuldade de acesso a serviços e infraestruturas de lazer na região, o complexo do Educandário Dom Duarte (EDD) se coloca como referência de maior importância aos moradores do distrito de Raposo Tavares. Dado esse cenário, o gesto fundamental para o plano do centenário da Liga Solidária passa pela construção de um Educandário do Futuro cuja espacialidade reforce os atributos que conectam a comunidade ao EDD: os sentimentos de pertencimento, acolhimento e participação. Soma-se à esse aspecto outras duas características fundamentais do espaço: a conexão com à natureza propiciada pela vasta área livre inserida nos 460 mil metros quadrados do complexo, com notável patrimônio arbóreo; e a história da construção da paisagem, com resoluções de tombamento às fachadas de edifícios que remontam nos anos 1930.
Deste modo, a proposta aqui apresentada estabelece a materialização de um complexo guiado pela estruturação entre áreas livres qualificadas e duas principais áreas edificadas, das quais se destaca um edifício com lógica de cidadela-cidadã, que concentra a maior do programa. Do acesso principal aos edifícios, o trajeto é guiado pela paginação de piso cuja modulação de 2,5 x 2,5m (adotada dos edifícios às áreas livres) compõe hierarquias espaciais, estabelecendo hora espaços de calçadão, hora se abrindo para praças que abrigam parte do programa externo solicitado pela comunidade. A consolidação desses caminhos propicia a qualificação desses espaços livres junto a acessibilidade, configurando rotas confortáveis e acessíveis a pessoas com deficiencia e/ou mobilidade reduzida.
O eixo norte-sul guia os visitantes à construção que agrega vestiários, sanitários e a quadra poliesportiva, cobertas por uma grande marquise que configura o espaço de uso múltiplo. Já o eixo oeste-leste, conduz ao conjunto principal que concentra os programas de empreendedorismo e cultura, apoio institucional, lazer, além de parte do programa esportivo. O espaço anteriormente ocupado pelo campo 2 dá lugar a uma praça de acesso ao edifício, que se relaciona tanto com o campo 1, quanto com o auditório que propicia a possibilidade de eventos ao ar livre. A transição entre níveis é feita por um percurso acessível rampado, ou por escadas, e é entremeado por pisos intermediários que configuram praças de estar e convívio. Por fim, o edifício-cidadela pousa no espaço antes ocupado pelo campo 3, ocupando a área quase em sua totalidade.
A lógica construtiva é proposta pelo estabelecimento de um grande platô na cota +769,50, no qual estão encaixados blocos que abrigam os ambientes, como seus próprios edifícios dentro do edifício. A cidade é emulada através dessas construções e corredores, ambos respeitando o módulo de 2,5 m mencionado anteriormente. Entre as construções, os espaços de circulação e estar se integram, propiciando encontros e convívio, além de facilitar o acesso e visualização dos diferentes aspectos do programa ao visitante. Assim, a nova construção se apoia nos princípios estruturantes da prática da Liga Solidária para dialogar com a realidade vivida pela comunidade que frequenta o equipamento. Esboçando um gesto de cidadania a quem tem seu direito à cidade negado.